domingo, 6 de abril de 2008

poema

Ela acordou e ele não estava lá. Desapareceu naquela manhã.
Procurou-o por toda a parte e não o encontrou.
Tornou-se água estagnada em jarra de vidro. Ficou pairando no ar da casa esperando o seu regresso mas ele não regressou.
Tornou-se gaivota e procurou ansiosa. Tornou-se condor e procurou mais longe.
Pensou que alguém o tivesse levado. Tornou-se nuvem e escreveu no céu: “Devolvam-no.”
Ninguém o devolveu.
Tornou-se estrela e escreveu no céu com as suas irmãs: “Libertem-no. Deixem-no voltar.”.
Ele não voltou.
Tinha a certeza que o tinham levado. Tornou-se mosca e espiou todas as casas. Tornou-se exército de formigas e invadiu todas as casas. Ele não se teria ido embora assim. Não o encontrou.
Tornou-se pomba e ofereceu a sua paz em todas as esquinas mas ninguém o devolveu.
Tornou-se rato, gato e cão e vadiou pelas ruas.
A sua dor cresceu e tornou-se corvo enraivecido que atacou os campos.
Tornou-se enxame e atacou mas ainda assim ninguém o devolveu. Ninguém o libertou.
Tornou-se rocha e destruiu as casas. Tornou-se cavalo e cavalgou pelos montes. Quando se cansou tornou-se vento e difundiu-se em todas as direcções.
Não regressou. Ninguém o libertou. Ninguém o devolveu.
A sua dor tornou-se insuportável e tornou-se chuva que percorre o mundo. Quando as suas lágrimas tocam o chão ainda se ouve a sua pergunta: “Onde está o Amor?”.

Ninguém lhe respondeu.