Ultimamente ando tão cansada. Tão cansada. Tudo me cansa: descer da cama, descer as escadas, abrir a água, ligar o fogão, abrir os olhos, fechar os olhos. Tudo. Ando assim há uns meses mas a vida continua. Uma pessoa esforça-se. O pior são mesmo os dentes que começaram a ceder. É a idade. Só me sinto bem de tarde, no jardim, quando me sento à sombra da minha árvore do maracujá. Tem sido a minha companhia. O meu apoio. E tem dado os seus frutos. Uns frutos deliciosos. Toda a gente o diz e me pergunta qual o meu segredo. O meu segredo? Amor e carinho.
Veio connosco, comigo e com o meu marido para esta casa. É a nossa fruta favorita. Plantamo-la com juras de paixão eterna na primeira lua cheia de Abril. Nos primeiros anos os frutos eram pequenos e mirrados e podia dizer-se que a árvore era anã. Podia até ser um símbolo do que se tinha tornado o nosso casamento. O Fredo trabalhava até tarde no escritório, dizia ele, mas chegava a cheirar a vinho e a pêgas. Vivia num choro constante. A árvore parecia compreender.
Um dia não aguentei mais e disse-lhe que me ia embora. Ele agarrou-me e bateu-me. Bateu-me. Saí a correr para o jardim para fugir. Ele correu atrás de mim, tropeçou numa das raízes salientes da árvore e caiu em cima de um ancinho da horta. Morreu ali. Sem gritos nem dor. Não chorei. Sem gritos nem dor. Peguei numa pá e escavei cuidadosamente por baixo da árvore do maracujá, tentando não estragar as raízes e enterrei-o. No dia seguinte de manhã fui à polícia apresentar queixa de desaparecimento do meu Fredo. Aí sim. Dor e gritos. Para todos os efeitos saiu depois do jantar e não voltou. Nem vai voltar é claro. Ao que parece o meu Fredo já era conhecido da polícia e ninguém se preocupou muito com ele. Nem eu com isso.
A árvore cresceu. Cuido dela como cuidava dele. Dou-lhe todo o meu carinho e ela corresponde. Cresce forte e dá-me os seus frutos deliciosos que é mais do que aquele ingrato me deu. Nos dias bons penso que é ele que... disparates.
Ela está aqui para mim. Adoro vir para aqui de tarde.Ando tão cansada. Tão cansada. Vou dormir um bocadinho.
Veio connosco, comigo e com o meu marido para esta casa. É a nossa fruta favorita. Plantamo-la com juras de paixão eterna na primeira lua cheia de Abril. Nos primeiros anos os frutos eram pequenos e mirrados e podia dizer-se que a árvore era anã. Podia até ser um símbolo do que se tinha tornado o nosso casamento. O Fredo trabalhava até tarde no escritório, dizia ele, mas chegava a cheirar a vinho e a pêgas. Vivia num choro constante. A árvore parecia compreender.
Um dia não aguentei mais e disse-lhe que me ia embora. Ele agarrou-me e bateu-me. Bateu-me. Saí a correr para o jardim para fugir. Ele correu atrás de mim, tropeçou numa das raízes salientes da árvore e caiu em cima de um ancinho da horta. Morreu ali. Sem gritos nem dor. Não chorei. Sem gritos nem dor. Peguei numa pá e escavei cuidadosamente por baixo da árvore do maracujá, tentando não estragar as raízes e enterrei-o. No dia seguinte de manhã fui à polícia apresentar queixa de desaparecimento do meu Fredo. Aí sim. Dor e gritos. Para todos os efeitos saiu depois do jantar e não voltou. Nem vai voltar é claro. Ao que parece o meu Fredo já era conhecido da polícia e ninguém se preocupou muito com ele. Nem eu com isso.
A árvore cresceu. Cuido dela como cuidava dele. Dou-lhe todo o meu carinho e ela corresponde. Cresce forte e dá-me os seus frutos deliciosos que é mais do que aquele ingrato me deu. Nos dias bons penso que é ele que... disparates.
Ela está aqui para mim. Adoro vir para aqui de tarde.Ando tão cansada. Tão cansada. Vou dormir um bocadinho.