Quando é que descobri isto?
Não sei bem. Talvez há uns dois, três anos. Na altura tinha começado a trabalhar por conta própria e também me começaram a aparecer as primeiras rugas de expressão. Odeio rugas. Comecei a vê-las, a estudá-las. Optei pelos cremes. Nada. Lá estavam elas todos os dias, à noite, no espelho, quando o efeito do creme passava. Quer dizer, sempre não. Um dia apareceram bastante reduzidas e algumas quase nem se notavam. Fiquei especada em frente ao espelho a tentar perceber o que tinha feito de diferente, que creme novo tinha posto. E nada me veio a cabeça. Um dia como os outros. pensei: ”finalmente o dinheiro dos cremes vai render”. Uma semana depois estava especada outra vez em frente ao espelho. As rugas tinham desaparecido todas. Todas. Dei voltas à cabeça e finalmente vi o denominador comum entre estes meus dois dias – fiz uma desvitalização! Já não fazia uma há muito tempo. Na clínica anterior só me deixavam fazer os trabalhos menores, as limpezas e os tratamentos de cáries...
É claro que pensei: “Não sejas parva! Estás a perder o juízo e eu a ver...”. E as rugas voltaram algum tempo depois.
Surgiu a oportunidade de nova desvitalização, e, aquela ideia não me saía da cabeça pelo que decidi arranjar provas. Fotografei todos os milímetros da minha cara antes e depois da desvitalização.
Era impossível não ver, parecia uma miúda de 23 anos! Linda e jovem.
Mas voltaram. Novamente. Não suportei ver-me assim feia e velha. Retorcida e marcada. A ansiedade dava cabo de mim e já pensava desvitalizar um dente a um qualquer paciente mesmo que o dente estivesse impecável. Eu sabia que era errado mas não o podia evitar. Foi o que aconteceu mas não o podia fazer outra vez.
Não sei bem. Talvez há uns dois, três anos. Na altura tinha começado a trabalhar por conta própria e também me começaram a aparecer as primeiras rugas de expressão. Odeio rugas. Comecei a vê-las, a estudá-las. Optei pelos cremes. Nada. Lá estavam elas todos os dias, à noite, no espelho, quando o efeito do creme passava. Quer dizer, sempre não. Um dia apareceram bastante reduzidas e algumas quase nem se notavam. Fiquei especada em frente ao espelho a tentar perceber o que tinha feito de diferente, que creme novo tinha posto. E nada me veio a cabeça. Um dia como os outros. pensei: ”finalmente o dinheiro dos cremes vai render”. Uma semana depois estava especada outra vez em frente ao espelho. As rugas tinham desaparecido todas. Todas. Dei voltas à cabeça e finalmente vi o denominador comum entre estes meus dois dias – fiz uma desvitalização! Já não fazia uma há muito tempo. Na clínica anterior só me deixavam fazer os trabalhos menores, as limpezas e os tratamentos de cáries...
É claro que pensei: “Não sejas parva! Estás a perder o juízo e eu a ver...”. E as rugas voltaram algum tempo depois.
Surgiu a oportunidade de nova desvitalização, e, aquela ideia não me saía da cabeça pelo que decidi arranjar provas. Fotografei todos os milímetros da minha cara antes e depois da desvitalização.
Era impossível não ver, parecia uma miúda de 23 anos! Linda e jovem.
Mas voltaram. Novamente. Não suportei ver-me assim feia e velha. Retorcida e marcada. A ansiedade dava cabo de mim e já pensava desvitalizar um dente a um qualquer paciente mesmo que o dente estivesse impecável. Eu sabia que era errado mas não o podia evitar. Foi o que aconteceu mas não o podia fazer outra vez.
Já não suportava o espelho. Felizmente nesta altura apareceu no meu consultório a D. Rosália. Uma adorável velhinha de 75 anos e com uns dentes num estado lastimoso. Foram tratamentos atrás de tratamentos. E desvitalizações. A senhora adorava-me! Via a minha necessidade de desvitalizações como uma sentida preocupação com o seu bem-estar...
- Vamos desvitalizar este dente D. Rosália?
- Não filha. Deixa estar, já não vale a pena. Mais vale arrancar.
- D. Rosália, tem um sorriso tão bonito! Quer ficar agora sem dentes? Quer mesmo tirar?
- Um sorriso bonito? Pronto, está bem, vamos desvitalizar.
Adorava-me! Até me chegou a trazer uns maracujás caseiros deliciosos. Deliciosos. De chorar por mais mesmo.
Lá fui andando intercalando a D. Rosália com desvitalizações ocasionais. Cada vez mais jovem, cada vez mais bela. A situação manteve-se até ao dia em que a minha assistente me entra a correr pelo consultório e diz muito emocionada:
- Sabe quem morreu?
- Quem?
- A D. Rosália!
- Não? Não pode ser!
- Foi. Também me custa a aceitar. Uma senhora tão simpática. Morreu esta noite e encontraram-na sentada numa cadeira do jardim.
- A sério?
- Sim. Ia lá brincar com isto doutora? Coitadinha. Uma senhora tão amorosa, mas ela realmente envelheceu muito nos últimos tempos. Cada vez que a via estava mais vincada.
Fiquei em silêncio e não consegui dizer uma palavra. Como é que eu ia fazer? As desvitalizações ocasionais não eram suficientes e muito irregulares. As minhas rugas já se começavam a notar e eu estava a contar com a desvitalização da semana seguinte. Foram uns dias horríveis. Horríveis, mesmo.
A sorte deve andar do meu lado e deve ser linda também. A D. Almerinda veio ao meu consultório. Uma outra velhinha adorável. Veio também a D. Rosa, a D. Elisa e a D. Paula. Estas arrastaram outras. E os maridos. E os filhos.
A D. Rosália gostava tanto de mim que falou do meu trabalho a todas as suas amigas...
- Vamos desvitalizar este dente D. Rosália?
- Não filha. Deixa estar, já não vale a pena. Mais vale arrancar.
- D. Rosália, tem um sorriso tão bonito! Quer ficar agora sem dentes? Quer mesmo tirar?
- Um sorriso bonito? Pronto, está bem, vamos desvitalizar.
Adorava-me! Até me chegou a trazer uns maracujás caseiros deliciosos. Deliciosos. De chorar por mais mesmo.
Lá fui andando intercalando a D. Rosália com desvitalizações ocasionais. Cada vez mais jovem, cada vez mais bela. A situação manteve-se até ao dia em que a minha assistente me entra a correr pelo consultório e diz muito emocionada:
- Sabe quem morreu?
- Quem?
- A D. Rosália!
- Não? Não pode ser!
- Foi. Também me custa a aceitar. Uma senhora tão simpática. Morreu esta noite e encontraram-na sentada numa cadeira do jardim.
- A sério?
- Sim. Ia lá brincar com isto doutora? Coitadinha. Uma senhora tão amorosa, mas ela realmente envelheceu muito nos últimos tempos. Cada vez que a via estava mais vincada.
Fiquei em silêncio e não consegui dizer uma palavra. Como é que eu ia fazer? As desvitalizações ocasionais não eram suficientes e muito irregulares. As minhas rugas já se começavam a notar e eu estava a contar com a desvitalização da semana seguinte. Foram uns dias horríveis. Horríveis, mesmo.
A sorte deve andar do meu lado e deve ser linda também. A D. Almerinda veio ao meu consultório. Uma outra velhinha adorável. Veio também a D. Rosa, a D. Elisa e a D. Paula. Estas arrastaram outras. E os maridos. E os filhos.
A D. Rosália gostava tanto de mim que falou do meu trabalho a todas as suas amigas...
1 comentário:
Não sei se conheces Edgar Allan Poe ou Roald Dahl mas estás muito nas suas linhas. Surpreendente e continuando interessante. Lindo.
Atenta na linha 9, do 2º parágrafo, que devia ser 'à cabeça'
Muitos beijinhos e saudades, sempre!
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