“Eu sou Merimvau e tudo isto é meu. Aqui, além e adiante. Este é o meu domínio. Quem ultrapassar os seus domínios sem ser convidado será destruído. A solidão é um privilégio que a mim concedo.”
Era o que dizia um dos letreiros, escritos à mão em tinta vermelha, espelhados a intervalos regulares ao redor da propriedade. Nunca nada, nem ninguém, lá entrava, e, nunca nada, nem ninguém, de lá saía. Não havia cultivo dos campos nem cuidados com o jardim. A relva parecia nunca crescer mais que dez centímetros e os corvos não sobrevoavam sequer os campos. Pareciam ter lido também os avisos.
Por vezes, nas raras noites limpas, era possível verem-se as luzes a acender e a apagar como se alguém estivesse a atravessar as diferentes divisões da casa e fosse alumiando o seu caminho. Era estranho. Simplesmente estranho.
Ninguém sabia a sua idade e ninguém se lembrava sequer de o ter visto, mas... corriam os boatos. “...Quem tinha ignorado o aviso nunca mais tinha voltado...” diziam as pessoas num tom de voz decrescente e olhando inclinadas para o chão com aquela expressão de saudade, como se lhes tivesse desaparecido alguém próximo. Também havia um outro pormenor estranho que favorecia a intriga e afastava os curiosos: a cerca. O ar, quente, húmido e metanoso da região pantanosa fazia com que tudo apodrecesse mais rapidamente, mas, aquela cerca de madeira polida, sem qualquer adorno, continuava como sempre esteve - impecável.
Uma vez, dizem as vozes sussurrantes, foi atingida por um raio numa daquelas velhas tempestades tropicais e todos a viram arder mas no dia seguinte lá estava ela como sempre esteve. Ninguém a viu ser reparada. Ninguém viu nada.
Um dos comerciantes locais com quem travei amizade disse que se eu não acreditasse podia sempre fazer o mesmo que os outros: “Faça uma marca numa das tábuas, espere, e, veja se ela ainda lá está depois do Sol nascer”.
Não fiz uma, fiz várias marcas em tábuas diferentes e esperei como um observador da BBC camuflado pelas plantas. Não aconteceu nada durante toda a noite mas mal o sol nasceu fui inspeccionar e as tábuas estavam como sempre estiveram – impecáveis.
Definitivamente afastava os curiosos. Afastou-me a mim. Um homem pode não ser uma ilha mas pode ser um rochedo ermo e vazio se tiver uma cerca suficientemente forte, afinal, a solidão não é mais que um privilégio que concedemos a nós próprios.
Era o que dizia um dos letreiros, escritos à mão em tinta vermelha, espelhados a intervalos regulares ao redor da propriedade. Nunca nada, nem ninguém, lá entrava, e, nunca nada, nem ninguém, de lá saía. Não havia cultivo dos campos nem cuidados com o jardim. A relva parecia nunca crescer mais que dez centímetros e os corvos não sobrevoavam sequer os campos. Pareciam ter lido também os avisos.
Por vezes, nas raras noites limpas, era possível verem-se as luzes a acender e a apagar como se alguém estivesse a atravessar as diferentes divisões da casa e fosse alumiando o seu caminho. Era estranho. Simplesmente estranho.
Ninguém sabia a sua idade e ninguém se lembrava sequer de o ter visto, mas... corriam os boatos. “...Quem tinha ignorado o aviso nunca mais tinha voltado...” diziam as pessoas num tom de voz decrescente e olhando inclinadas para o chão com aquela expressão de saudade, como se lhes tivesse desaparecido alguém próximo. Também havia um outro pormenor estranho que favorecia a intriga e afastava os curiosos: a cerca. O ar, quente, húmido e metanoso da região pantanosa fazia com que tudo apodrecesse mais rapidamente, mas, aquela cerca de madeira polida, sem qualquer adorno, continuava como sempre esteve - impecável.
Uma vez, dizem as vozes sussurrantes, foi atingida por um raio numa daquelas velhas tempestades tropicais e todos a viram arder mas no dia seguinte lá estava ela como sempre esteve. Ninguém a viu ser reparada. Ninguém viu nada.
Um dos comerciantes locais com quem travei amizade disse que se eu não acreditasse podia sempre fazer o mesmo que os outros: “Faça uma marca numa das tábuas, espere, e, veja se ela ainda lá está depois do Sol nascer”.
Não fiz uma, fiz várias marcas em tábuas diferentes e esperei como um observador da BBC camuflado pelas plantas. Não aconteceu nada durante toda a noite mas mal o sol nasceu fui inspeccionar e as tábuas estavam como sempre estiveram – impecáveis.
Definitivamente afastava os curiosos. Afastou-me a mim. Um homem pode não ser uma ilha mas pode ser um rochedo ermo e vazio se tiver uma cerca suficientemente forte, afinal, a solidão não é mais que um privilégio que concedemos a nós próprios.
2 comentários:
"...Um homem pode não ser uma ilha mas pode ser um rochedo ermo e vazio se tiver uma cerca suficientemente forte, afinal, a solidão não é mais que um privilégio que concedemos a nós próprios..."
Muito profundo...
O texto está muito giro.
Pequenos contos brancos...
Isto arranca ou não?????
Anda lá... o teu publica espera por ti... mais contos..mais...mais...
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