Decidiu parar naquela frase, não se sabia bem porquê. Era a quinta frase da página 161 do livro que andava a tentar terminar faziam já alguns dias. “And so it is not to be wondered at if he grew up a little spoilt, a little fond of his own way and a little inclined to think well of himself.”. Era uma conclusão fundamental para a construção da personagem e parecia até que se aplicava a ele próprio e não seria até de estranhar que ao encontrar essa frase se tivesse decidido a parar para reflectir sobre a personagem que era ele próprio e a sua construção. O livro não era nada de extraordinário e o facto de estar a ler fora do âmbito da sua língua materna conjugado com um inglês “austeniano” não ajudavam em nada a leitura demorada que já estranhavam os vizinhos do metro.
Aquela frase ali solta e estática parecia até um desafio lançado unicamente para ele pela autora desconhecida. Seria um desafio, desabafo ou acusação? Ficou na dúvida até os seus sentidos se sintonizarem na rapariga que agora entrava e se tentava agarrar com uma das mãos enquanto com a outra tentava não deixar cair o waffle com chocolate que libertava um vapor de chocolate negro e quente em toda a carruagem provocando um efeito Pavlov generalizado. Uma rapariga de cabelos negro e encaracolados que percorreu a carruagem, se sentou ao seu lado e abriu o Manual de Odontopediatria na página 161. Isso surpreendeu-o mas não tanto como o facto de a quinta frase que aparecia sublinhada a grafite suave, talvez de um lápis número dois, ter sido sussurrada: ”Os pais e a criança deverão ser orientados e tranquilizados.”.
Sentiu-se desconfortável e até observado embora não soubesse por quem mas conseguia sentir o aumento gradual do número de olhos perscrutando na sua direcção certamente sentindo o seu desconforto. A temperatura pareceu aumentar e o ar ficou mais pesado parecendo arrastar consigo pequenas gotas de suor para o fundo da nuca que deslizavam pelo pescoço. Levantou-se e dirigiu-se para a porta. Era melhor sair antes que a situação fugisse do seu controlo. O controlo não estava habituado a fugir-lhe nem ele estava habituado a que ele lhe fugisse. Saiu do metro sem saber bem onde estava e subiu a rua, seguiu em frente sem olhar para trás afastando-se do barulho, das montras, das pessoas e daquele cheiro enjoativo e quente de chocolate que teimava em não lhe sair da roupa. Deu por si no meio do cemitério, em frente a quinta campa da secção 161. Era ali que ele descansava. Viu as tulipas frescas e as velas acesas e soube que ela tinha estado lá. Ela ia visita-lo frequentemente, ele não. Sentia que a culpa tinha sido dele, se calhar excesso de zelo ou talvez escassez de orientação como dizia o livro.
Não sabia o que tinha corrido mal mas sabia que tinha culpa. E saudades.
Aquela frase ali solta e estática parecia até um desafio lançado unicamente para ele pela autora desconhecida. Seria um desafio, desabafo ou acusação? Ficou na dúvida até os seus sentidos se sintonizarem na rapariga que agora entrava e se tentava agarrar com uma das mãos enquanto com a outra tentava não deixar cair o waffle com chocolate que libertava um vapor de chocolate negro e quente em toda a carruagem provocando um efeito Pavlov generalizado. Uma rapariga de cabelos negro e encaracolados que percorreu a carruagem, se sentou ao seu lado e abriu o Manual de Odontopediatria na página 161. Isso surpreendeu-o mas não tanto como o facto de a quinta frase que aparecia sublinhada a grafite suave, talvez de um lápis número dois, ter sido sussurrada: ”Os pais e a criança deverão ser orientados e tranquilizados.”.
Sentiu-se desconfortável e até observado embora não soubesse por quem mas conseguia sentir o aumento gradual do número de olhos perscrutando na sua direcção certamente sentindo o seu desconforto. A temperatura pareceu aumentar e o ar ficou mais pesado parecendo arrastar consigo pequenas gotas de suor para o fundo da nuca que deslizavam pelo pescoço. Levantou-se e dirigiu-se para a porta. Era melhor sair antes que a situação fugisse do seu controlo. O controlo não estava habituado a fugir-lhe nem ele estava habituado a que ele lhe fugisse. Saiu do metro sem saber bem onde estava e subiu a rua, seguiu em frente sem olhar para trás afastando-se do barulho, das montras, das pessoas e daquele cheiro enjoativo e quente de chocolate que teimava em não lhe sair da roupa. Deu por si no meio do cemitério, em frente a quinta campa da secção 161. Era ali que ele descansava. Viu as tulipas frescas e as velas acesas e soube que ela tinha estado lá. Ela ia visita-lo frequentemente, ele não. Sentia que a culpa tinha sido dele, se calhar excesso de zelo ou talvez escassez de orientação como dizia o livro.
Não sabia o que tinha corrido mal mas sabia que tinha culpa. E saudades.
3 comentários:
Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.
alô...
bem... nao foi desta que me mataste! lol
cabelos encaracolados? waffle? nao faço ideia quem seja...
lol
beijinhos
ora bem isto tem cheiro a waffle tem...depois vai visitando o meu...bj
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