terça-feira, 1 de maio de 2007

O Sr. Nate e o Sr. Benje*

O Sr. Nate e o Sr. Benje eram vizinhos, quer dizer, não eram, ou melhor eram mas sem o serem! Moravam na mesma cidade mas em lados opostos. O Sr. Nate morava na parte fina da cidade, com os seus casarões de séculos passados que apenas se abriam para sangue-azulados. Ou vermelho vivo, vivo como o dinheiro.
O Sr. Benje vivia no extremo oposto como ainda se devem lembrar, numa viela escura a transpirar de trabalho e orgulho. Os caminhos destes dois homens nunca se tinham cruzado até ao dia 25 de Março de 1930, altura em que o destino moveu as suas teias. O Sr. Nate tinha negócios a tratar, e, o Sr. Benje contas para pagar, pelo que embarcaram no mesmo barco rumo a locais exóticos e desconhecidos.
A viagem começou calma, com dias de sol e pouco vento, e, os passageiros aproveitavam para gozar um pouco de sol, sempre resguardados, é claro. Sol em excesso não é bom para ninguém e todos sabiam disso.
O barco era como uma pequena cidade por isso o Sr. Nate e o Sr. Benje ficaram novamente em lados opostos. Um na parte fina e outro na parte... bem, não tão fina! Aqui também não havia misturas, embora todos se cruzassem e apanhassem o mesmo sol de final da tarde, a noitinha todos regressavam para os seus respectivos aposentos. Na verdade, quase todos. Alguns pares de amores escondidos batiam asas mas isso é outra história. Voltemos ao Sr. Nate e ao Sr. Benje!
Ao terceiro dia de viagem o tempo foi modificando e as nuvens foram chegando, chegando devagarinho até se instalarem definitivamente e taparem o Sol por completo. Depois das nuvens chegou a tempestade e essa não foi chegando devagarinho...simplesmente chegou!
Chegou e sacudiu o barco com força, fez subir as ondas e virar o barco. O Sr. Nate caiu ao mar na sua cadeira enquanto lia um dos seus romances, e foi-se afastando assim a flutuar, sentado, debaixo de chuva e trovoada, sem ninguém dar conta. O Sr. Benje ia a correr para o seu quarto (porque nunca tinha gostado muito de trovoada que o fazia ficar com pele de galinha e arrepiava os caracóis da parte de trás da cabeça) e numa sacudidela caiu também ao mar agarrado a um guarda chuva, e, lá se foi afastando. O Sr. Benje abriu o guarda chuva, virou-o ao contrário e subiu a bordo. Passaram dois dias e três horas a navegar em águas desconhecidas até irem desaguar num pequeno monte de areia com algumas palmeiras e um riacho que a atravessava completamente a meio.
Chegaram os dois a ilha quase ao mesmo tempo: um sentado na sua cadeira de descanso a ler um romance e o outro a dormitar sentado no guarda chuva. O Sr. Nate desceu de sua cadeira, olhou em volta, atravessou o riacho e sentou-se numa rocha verde-acinzentada. O Sr. Benje foi a correr atrás dele mas quando tentou atravessar o riacho o Sr. Nate perguntou:
- O que pensa que vai fazer?
- Vou ter consigo, disse o Sr. Benje.
- Ai não, não vai. Este é o meu lado da ilha, respondeu o Sr. Nate enquanto o olhava de alto a baixo. Além do mais eu não me dou com seres da sua espécie, acrescentou sem o olhar nos olhos.
O Sr. Benje ficou tão indignado! Nunca tinha sido tão humilhado na vida. Ele que sempre fora um trabalhador honesto! Deu meia volta e murmurou entredentes:
- Não perdes pela demora!
Cada um fez um abrigo no seu lado da ilha e uma pequena fogueira. O Sr. Benje fez tudo mais rápido mas o Sr. Nate lá se desenrascou. Assim ficaram três dias a andar de um lado para o outro. O Sr. Nate acabou o romance e encontrou um baralho de cartas no seu casaco que resistiu a tempestade e entretinha-se a jogar solitário, o Sr. Benje ia ampliando a casa. Ao fim de uma semana já não fazia obras e o Sr. Nate já não suportava a ideia de jogar cartas sozinho. Ao nono dia foi até ao riacho e gritou.
- Quer jogar uma partida de cartas?
- Quem? Eu? Está falar comigo? Perguntou o Sr. Benje.
- Sim! Vê aqui mais alguém? Quer ou não quer jogar cartas? Perguntou irritado o Sr. Nate.
- Não obrigado. Eu não jogo cartas com pessoas da sua espécie, respondeu o Sr. Benje com um sorriso.
O Sr. Nate olhou-o com um ar de completa admiração e voltou para a sua pedra de jogo. Não houve mais troca de palavras mas não se preocupem meninos, eles não ficaram sozinhos. Um ficou com o ódio, o outro com a vingança.
*conto infantil

4 comentários:

pedrojoao disse...

olá meu amigo jorge,
com que então a blogar já há mto tempo e sem dizer nada, ah!!!
o mais engraçado é que eu até (não sei bem como, por isso nem perguntes) já tinha andado por aqui a explorar, achando que, sim sr., isto tá cá um blog de mto boa qualidade. obviamente, sem saber que era teu, nessa altura. vai que não vai, reencontro nossa amiga, da parada ribatejana, num dos nossos comuns encontros, onde procurámos saber como andámos com as vidas de cada um, e, tal como dizia, vai que não vai, comenta ela: já conheces o blog do nosso amigo ribatejano!? e eu: quem! o bácinas?!! sim, eras mesmo tu. e pronto, né... vai que não vai, gosto mesmo dele e tb do desenho que criaste para te identificares. tem mta pinta e o blog, em si, tem mta classe. parabéns. vá! vá lá! aguenta esse sorrisinho e... cuidado estás a babar.te todo... ah porra! já sujaste a camisa aos quadradinhos... pff,,,

meu amigo jorge
beijinho grande
e agora dá.lhe com força
tens um novo seguidor

grande abraço
pedrojoão

belita disse...

Ooops!!I did it again.....
vou, a partir de agora, comentar apenas o k gostar e evitar k a profissão se note mto (pa ñ ferir outras sensibilidades!).
Mas já sabes k gosto bué dos teus txts espero k tb isso se note nos meus comments.
Já mudei de preferência, neste momento é 'O sr. Nate e o sr. Benje'.

ps: tb ñ sabia k estes contos são tua forma de ficcionares figuras reais, e muito bem conseguida.

beijinhos grds

Jorge disse...

na, na! é para comentar mesmo! fiquei um bocado triste porque andava concentrado nos acentos mas eles escapam-me... mas dá-me na cabeça! Ainda vou conseguir dominar correctamente a língua portuguesa. Abraço

e pedro: eu não tenho camisas aos quadradinhos!

Pronto tenho três. Mas ando quase sempre de t-shirt. Abraço

Jorge disse...

já vi um que me escapou... escrevo muito depressa depois é isto. vou re-editar "O Sr. Nate e o Sr. Benje"...