Onde é que ela tinha ido? O que tinha feito? Teria sido feliz? Infeliz? Teria saído sozinha? Foi um dia para esquecer ou um dia insignificante?
Aquela página em branco tolhia-lhe o espírito.
Ela tinha partido há cinco meses, três dias e vinte e uma horas, e, desde aí ele tinha lido todos os seus diários para a manter viva. Leu-os mais de que uma vez, repetidamente, até saber todas as palavras, todas as vírgulas e todas as pausas. Ao fim de um tempo recordava-se da vida dela como se fosse a dele. Todos os pormenores, todos os detalhes estavam ali transcritos naquela letra de professora primária. Não saltou sequer aqueles momentos embaraçosos que nenhum marido quer verdadeiramente saber. Leu tudo e para ele era como ter estado com ela todos os dias da sua vida. Todos, excepto aquele. Uma página em branco com a data cuidadosamente escrita numa imensidão de linhas em branco que pareciam não ter fim. 8 de Julho de 2002. A escrita tão cuidadosa que as próprias curvas das letras davam a sensação de aquele ter sido um dia diferente e especial até. Ela não avançou a data como já tinha feito com outros dias. Deixou a folha em branco para recordar. Mas o quê? O quê?
Era só um dia que não tinha sido partilhado com ele mas se ele não soubesse nada sobre esse dia então também não sabia nada sobre ela. Era mais uma estranha com que se tinha cruzado e isso era um pensamento aterrador. Lia e fazia esquemas temporais, ligava à família, aos amigos, aos colegas de trabalho, vasculhou jornais e procurou recibos antigos. Nada. Era um vazio insuportável que ninguém conseguia preencher. Desleixou-se de tudo menos da vida dela e daquele dia, daquela página em branco. Foi-se esquecendo de si. Confundiu a sua vida com a dela e vivia num limbo de memórias falsas, num quarto imundo de recortes, fotos, esquemas, calendários e folhas de diários espalhadas pelos cantos e estragadas pela humidade forçada do quarto.
Quando as pessoas nos fogem agarramo-nos à mais pequena coisa para as trazer de volta para junto de nós, mesmo que essa coisa seja uma insignificante página em branco num diário velho.
Aquela página em branco tolhia-lhe o espírito.
Ela tinha partido há cinco meses, três dias e vinte e uma horas, e, desde aí ele tinha lido todos os seus diários para a manter viva. Leu-os mais de que uma vez, repetidamente, até saber todas as palavras, todas as vírgulas e todas as pausas. Ao fim de um tempo recordava-se da vida dela como se fosse a dele. Todos os pormenores, todos os detalhes estavam ali transcritos naquela letra de professora primária. Não saltou sequer aqueles momentos embaraçosos que nenhum marido quer verdadeiramente saber. Leu tudo e para ele era como ter estado com ela todos os dias da sua vida. Todos, excepto aquele. Uma página em branco com a data cuidadosamente escrita numa imensidão de linhas em branco que pareciam não ter fim. 8 de Julho de 2002. A escrita tão cuidadosa que as próprias curvas das letras davam a sensação de aquele ter sido um dia diferente e especial até. Ela não avançou a data como já tinha feito com outros dias. Deixou a folha em branco para recordar. Mas o quê? O quê?
Era só um dia que não tinha sido partilhado com ele mas se ele não soubesse nada sobre esse dia então também não sabia nada sobre ela. Era mais uma estranha com que se tinha cruzado e isso era um pensamento aterrador. Lia e fazia esquemas temporais, ligava à família, aos amigos, aos colegas de trabalho, vasculhou jornais e procurou recibos antigos. Nada. Era um vazio insuportável que ninguém conseguia preencher. Desleixou-se de tudo menos da vida dela e daquele dia, daquela página em branco. Foi-se esquecendo de si. Confundiu a sua vida com a dela e vivia num limbo de memórias falsas, num quarto imundo de recortes, fotos, esquemas, calendários e folhas de diários espalhadas pelos cantos e estragadas pela humidade forçada do quarto.
Quando as pessoas nos fogem agarramo-nos à mais pequena coisa para as trazer de volta para junto de nós, mesmo que essa coisa seja uma insignificante página em branco num diário velho.
2 comentários:
"...Quando as pessoas nos fogem agarramo-nos à mais pequena coisa para as trazer de volta para junto de nós..."
A 8 de Julho de 2007 podes ser tu a escrever a página do diário dela... "...Todos os pormenores, todos os detalhes..." nunca é tarde...
E nós tb vamos gostar de saber todos os pormenores desse dia...!! Todos os detalhes, desse e de outro que se avizinha...Inda tá lá longe, tão longe, parece tão longe e vai xegar tão depressa como o orvalho que cai durante a noite escura e se deposita numa grande pétala azul...
Esse grandecontorosa...!!
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