Era vê-la sentada de lado, virada para a imensidão de sacos que viajavam a seu lado numa qualquer viagem de metro. Uma daquelas igual a tantas outras que nada tem de extraordinário excepto, por vezes, aquela borboleta que entra a voar em círculos para sair na estação seguinte.
Lá ia ela espreitando as compras com um ar de criança num parque de diversões, com tantos sítios para ir que não se sabe bem o que escolher. Ela emanava uma felicidade juvenil que todos na carruagem conseguiam sentir, e, ela já não aguentando o desejo , olha para um lado e para o outro, como quem atravessa a rua e começa a retirar de uma das sacas, ao calhas, uma das peças de roupa nova. Estende-a em cima das coxas. Corta a etiqueta com a chama rápida do isqueiro e levanta-a no ar para a ver uma outra vez. Uma camisola preta de manga ¾ a imitar um casaco de trespasse. Dobra-a cuidadosamente. Outra. E mais outra. Umas calças pretas de cinta descida, um blaser preto com remendos nos cotovelos e uma aplicação prata na gola, uns jeans pretos, uma blusa clássica preta, uma blusa de estilo oriental com motivos antracite, top’s pretos, t’shirts pretas, ... Outra. E mais outra.
O brilho nos olhos aumentava a cada peça nova que pegava e as pupilas pareciam até dilatar para um tamanho fora do normal, transformando os seus pequenos olhos castanhos em dois botões negros.
Pegou em todas as peças que tinha dobrado cuidadosamente e tentou meter tudo dentro da maior e mais discreta saca que trazia consigo. Não conseguiu e ficou um pouco atrapalhada, como se quisesse esconder a roupa nova que antes mostrara a quem quisesse ver. O aviso sonoro indicou a próxima estação e a aflição cresceu, acabando por meter parte da roupa numa saca translúcida com letras laranja vivo. Levantou-se, respirou fundo, carregou no botão para abertura da porta e saiu o mais discretamente possível. Acredito que não quisesse dar nas vistas, as más línguas nunca são muito simpáticas para as viúvas recentes.
Lá ia ela espreitando as compras com um ar de criança num parque de diversões, com tantos sítios para ir que não se sabe bem o que escolher. Ela emanava uma felicidade juvenil que todos na carruagem conseguiam sentir, e, ela já não aguentando o desejo , olha para um lado e para o outro, como quem atravessa a rua e começa a retirar de uma das sacas, ao calhas, uma das peças de roupa nova. Estende-a em cima das coxas. Corta a etiqueta com a chama rápida do isqueiro e levanta-a no ar para a ver uma outra vez. Uma camisola preta de manga ¾ a imitar um casaco de trespasse. Dobra-a cuidadosamente. Outra. E mais outra. Umas calças pretas de cinta descida, um blaser preto com remendos nos cotovelos e uma aplicação prata na gola, uns jeans pretos, uma blusa clássica preta, uma blusa de estilo oriental com motivos antracite, top’s pretos, t’shirts pretas, ... Outra. E mais outra.
O brilho nos olhos aumentava a cada peça nova que pegava e as pupilas pareciam até dilatar para um tamanho fora do normal, transformando os seus pequenos olhos castanhos em dois botões negros.
Pegou em todas as peças que tinha dobrado cuidadosamente e tentou meter tudo dentro da maior e mais discreta saca que trazia consigo. Não conseguiu e ficou um pouco atrapalhada, como se quisesse esconder a roupa nova que antes mostrara a quem quisesse ver. O aviso sonoro indicou a próxima estação e a aflição cresceu, acabando por meter parte da roupa numa saca translúcida com letras laranja vivo. Levantou-se, respirou fundo, carregou no botão para abertura da porta e saiu o mais discretamente possível. Acredito que não quisesse dar nas vistas, as más línguas nunca são muito simpáticas para as viúvas recentes.
2 comentários:
Adorei especialmente esta parte do teu anterior conto, que por alguma razão insondável não consigo lá escrever um comentário: 'Quando as pessoas nos fogem agarramo-nos à mais pequena coisa para as trazer de volta para junto de nós...'. È muito lindo.
Quanto a este conto só tenho a dizer que a técnica descritiva lhe fica bem.
beijinhos grandes e muitas muitas saud
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